Avesso

você não deve ter visto,mas eu me retorcia na cama,tentando desvirar a alma,colocada no avesso sem querer.eu me esfregava pelo colchão cheio de espumas e molas despontadas,arranhando as minhas costas.deixando marcas vermelhas.você não deve ter ouvido mas eu chorava.pedia num gemido pra que me lavassem por dentro.pra que me jogassem baldes de água e sabão pelos meus cantos.todos.pelos lugares mais escondidos,como a ponta de um dedo.você não deve saber,mas eu me sentia sujo,omo se tivesse desistido de caminhar depois da chuva e parado numa esquina qualquer.com as mãos no bolso.encostado no poste,recebendo as poças de lamas nos carros passando perto da guia,de propósito.espirrando na minha roupa,encharcando meus sapatos,sujando o meu rosto com o que escorreu da cidade imunda.com o que veio por cada um dos canos e tubulações. com a àgua que levou os telhados,as marquises,as calçadas.vocr nao deve ter sentido, mas eu tinha um amargo na boca nem isso você percebeu?um gosto ruim de coisas passadas de algo apodrecido você não sentiu meu cheiro nem a minha testa quente,o suor da minha febre,você não leu os meus bilhetes om letras tremidas espalhadas pela casa,meus pedidos de ajuda escritos com carvão pelas paredes .as letras de imã formando socorro,na porta da geladeira.você estava ao meu lado mas nunca me viu.por isso não pode me exigir um sorriso agora.não pode me pedir que eu levante.por isso não pode me chamar de forte.você nao me conhece por isso não pode me olhar com essa cara e dizer que não sabia que eu estava morrendo aos poucos.por dentro.

Eduardo Baszczyn